O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) aprovou uma recomendação para a cobertura jornalística do conflito entre Israel e o Hamas.
O texto pede que os jornais impressos, digitais e, principalmente, TVs e rádios, que administram concessões públicas de radiodifusão, garantam maior diversidade de vozes e equilíbrio de fontes na cobertura do conflito.
A recomendação, proposta pela Comissão de Direito à Liberdade de Expressão e à Comunicação, depois de uma denúncia da Frente em Defesa do Povo Palestino (Fepal), foi aprovado por unanimidade.
“A recomendação foi aprovada por unanimidade. Nós entendemos que é necessário, sim, que seja assegurado no Brasil, por todas as empresas de comunicação, uma cobertura ética que respeite os fatos e que observe o direito de todos os lados serem ouvidos”, disse o presidente do CNDH, André Carneiro Leão.
Norian Segatto, diretor da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), e membro do CNDH, disse que, em média, 80% das reportagens veiculadas no Brasil sobre o conflito apresentam uma visão parcial.
“Alguns importantes veículos e programas dedicaram mais de 80% do tempo de suas reportagens a apresentar a visão de Israel sobre o conflito. Isso, a meu ver, pode causar sérias distorções na opinião pública, e não é exemplo de como se faz jornalismo plural, imparcial e democrático”.
A recomendação aprovada também pede que sejam evitados o uso de expressões que possam aumentar o preconceito a religiões ou grupos étnicos, como por exemplo o qualificativo de extremista ou terrorista que vêm sendo aplicado em várias reportagens para se referir ao Hamas.
“O Brasil segue a orientação da ONU [Organização das Nações Unidas] de não colocar o Hamas como organização terrorista, e acho que isso deveria ser seguido pela mídia brasileira. O uso indiscriminado desse termo reforça aspectos de preconceito contra árabes em geral e palestinos. Essa mesma mídia não se refere, por exemplo, ao Estado de Israel como um regime de apartheid ou genocida.”
O conselho também recomenda que os veículos de comunicação parem de tratar o conflito com a expressão Israel versus Hamas, o que, segundo o CNDH, esconde um histórico de 75 anos de ocupação israelense dos territórios palestinos.
Para justificar a decisão, o conselho toma como referência o número de mortos na Faixa de Gaza, especialmente crianças. Até esta segunda-feira (13), quase 12 mil pessoas morreram no conflito, sendo que sete a cada dez mortes são de crianças.
Outra referência são organizações de direitos humanos, como Anistia Internacional, Human Rights Watch e mesmo organizações israelenses, como a B’Tselem, que nomeiam a ocupação da Palestina por Israel como um regime de apartheid, inclusive com a construção de um muro de 9 metros de altura e 760 quilômetros de extensão, o dobro da altura do antigo muro de Berlim e cinco vezes maior em extensão.
A recomendação está sendo enviada para os veículos de comunicação do país, incluindo os da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).