Em atos realizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Maranhão, manifestantes protestaram nesta sexta-feira (31) contra a Operação Contenção, ação policial realizada na capital fluminense nesta semana e que deixou 121 mortos, considerada a mais letal da história do país.
No Rio, moradores dos complexos da Penha e do Alemão e de outras favelas do Rio de Janeiro fizeram uma caminhada. Mesmo debaixo de chuva, milhares de pessoas se reuniram em um campo de futebol, na Vila Cruzeiro, uma das comunidades do Complexo da Penha.
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Entre os participantes, se destacam as mães de jovens mortos durante outras operações policiais.
São Paulo
Em manifestação (foto em destaque) na Avenida Paulista, o movimento negro reivindicou a federalização da investigação da ação policial, além da criminalização do governador Cláudio Castro e dos policiais militares.
“Pela federalização das investigações e a criação de políticas de acolhimento e acesso à justiça para as famílias vítimas da violência. Por reparação aos moradores por danos morais e psicológicos dessa política genocida do Estado brasileiro”, destacou Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos, e da União de núcleos de educação popular pré-vestibulares para a juventude negra, indígena e periférica (Uneafro Brasil).
O ato teve início em frente ao prédio do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e partiu em passeata em direção a Rua da Consolação. Entre as entidades participantes, estavam o Movimento Negro Unificado (MNU), a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), entidades sindicais e de movimentos populares.
“Mataram em um dia mais do que em Gaza. Lá é declarada a guerra, aqui não, mas ela existe, sempre existiu. Estamos aqui para fazer o combate. Mas sem armas de fogo. Com os nossos cérebros e com a com a força dos movimentos sociais e da população”, disse Zezé Menezes, fundadora da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.
Maranhão
Em São Luís, os movimentos sociais se reuniram na Praça Deodoro, no centro, com cartazes, faixas e bandeiras criticando a violência policial.
O estudante Alex Silva, 18 anos, classificou a ação policial no Rio de Janeiro como a necropolítica, que “segrega as populações pobres e periféricas de cor preta” e criticou o governador Castro por ter considerado a operação um sucesso.
“Nós sabemos que no, meio dos mais de 100 mortos, tinham pessoas de bem, tinham pessoas que contribuíam para a sociedade”, acrescentou.
A integrante do movimento Quilombo Classe e Raça, Claudicéia Durans, 54 anos, disse que não se pode normalizar esse tipo de operação em comunidades pelo fato de os moradores serem pobres.
“Não pode ser normal uma situação dessa em que o Estado não entra com nenhuma política pública e quando a população fica à mercê de facções criminosas acontecer esse massacre. Nós somos totalmente contra as facções criminosas, somos a favor da população. A polícia, quando entrou nesses territórios, não se atentou para se as pessoas tinham algum envolvimento com a criminalidade”, pontuou a professora do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).
O integrante da central sindical Conlutas, Saulo Arcângelo, 54 anos, criticou a ausência de políticas públicas que levem educação, cultura, geração de renda e cidadania para a juventude, “que não tem uma perspectiva de trabalho, não tem uma perspectiva de educação, inclusive sendo presas fáceis do processo do tráfico de droga que cada vez mais cresce”.
Convocaram o ato a Frente Negra Revolucionária, o Movimento Correnteza Maranhão e a União Popular Maranhão. Os movimentos destacaram denúncias de que vítimas tinham sinais de execução.
Brasília
Na capital federal, o ato foi realizado próximo à Esplanada dos Ministérios. Os manifestantes defenderam uma investigação independente da Operação Contenção.
“O que ocorreu foi um brutal atentado contra a vida do povo preto e favelado”, disse Maria das Neves, integrantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos.
O conselho fez um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, preste informações sobre a ação policial contra facção criminosa do Comando Vermelho. Outro pedido foi encaminhado à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, para uma perícia independente.
* Colaborou Antônio Trindade, da TV Brasil em Brasília
