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Para onde caminhamos nos próximos dez anos?

Panorama

O que a tapeçaria do tempo revela sobre as próximas curvas de nossa jornada coletiva? Em um mundo cada vez mais interconectado, onde cada ação repercute em ecossistemas globais, a mera previsão de eventos isolados cede lugar a uma análise sistêmica. Este texto, longe de ser um mero exercício de futurologia, mergulha nas complexas dinâmicas que definem nosso destino, utilizando a história como bússola para mapear os riscos iminentes e os desafios existenciais da humanidade. É uma exploração da frágil e interdependente teia que sustenta a civilização, onde a luta silenciosa entre forças de ordem e caos moldará o próximo decênio.

Democracia x controle algorítmico: a disputa invisível

Talvez a maior batalha da próxima década não ocorra em trincheiras, mas em linhas de código:

Democracia digital: países tentarão adaptar sistemas participativos para a era da hiperconexão, dando mais voz a cidadãos.

Controle algorítmico: governos e corporações já usam algoritmos para vigiar, prever comportamentos e estilos de vida.

Zona híbrida: o mais provável é que surjam regimes mistos — democracias com traços de vigilância, e ditaduras com fachadas de participação digital.

 

Risco central

Se a crise alimentar ou uma pandemia severa se confirmarem, a tentação do “controle absoluto via algoritmos” pode suplantar liberdades democráticas em nome da “sobrevivência coletiva”.

Guerras: o mundo em estado de tensão permanente

Não se espera uma terceira guerra mundial, a lógica da destruição nuclear mútua, a proverbial espada de Dâmocles, ainda mantém as grandes potências sob controle. Contudo, os choques regionais parecem inevitáveis.

Europa Oriental: Rússia e Ucrânia devem caminhar para um impasse de fronteira congelada, sem vitória total para qualquer lado.

Ásia-Pacífico: Taiwan será palco de pressões crescentes da China, sobretudo em guerras cibernéticas e bloqueios navais.

Oriente Médio: As tensões entre Israel, Irã e grupos armados podem gerar conflitos periódicos, mantendo a região em permanente instabilidade.

Estamos diante de um mundo onde as guerras não acabam apenas mudam de formato, resume Juliana Gomes Antonangelo.

Crise alimentar: o fantasma da fome retorna

Segundo Antonangelo, entre 2029 e 2032, especialistas apontam um alto risco de crise alimentar global. Fatores como mudanças climáticas severas, secas prolongadas e a dependência de cadeias logísticas frágeis podem levar a uma escalada de preços e à fome em larga escala.

Os países pobres seriam os mais atingidos, mergulhando em um cenário de vulnerabilidade.

Enquanto isso, nações ricas investiriam em agricultura vertical, proteínas sintéticas e fazendas de laboratório, ampliando a desigualdade.

Como nos ensina a história, a fome é combustível para revoltas populares. Não seria surpresa, portanto, se esse período assistisse a levantes semelhantes à Primavera Árabe só que em escala ainda maior.

Epidemias: um ciclo inevitável

As probabilidades também indicam que novas epidemias surgirão, não por acaso, mas como parte do padrão estatístico da história.

Doenças respiratórias podem gerar sustos regionais, contidos mais rapidamente que a COVID-19.

Doenças tropicais, como dengue e malária, devem expandir-se para áreas temperadas.

Superbactérias resistentes a antibióticos despontam como a grande ameaça silenciosa: podem causar mais mortes que pandemias virais até 2035.

A boa notícia, porém, é que a biotecnologia avança a passos largos. Vacinas de RNA mensageiro de segunda geração e diagnósticos em tempo real podem, de fato, transformar surtos em problemas controláveis.

O que nos espera?

O futuro próximo, portanto, será marcado pelo choque entre um caos visível e uma ordem invisível.

Guerras regionais moldarão blocos de poder, redefinindo alianças.

A fome poderá redesenhar mapas políticos, acendendo o pavio de revoltas.

As epidemias nos lembrarão da vulnerabilidade humana, mas também da nossa capacidade de resposta científica.

Talvez, como ensinaria o tabuleiro de Galton, cada indivíduo seja apenas uma bolinha caindo em caminhos aleatórios. Mas quando olhamos o quadro geral, a curva que se forma é clara: a humanidade terá de reinventar sua forma de viver em comunidade para sobreviver aos próximos dez anos.

A questão, portanto, não é se sobreviveremos, mas como. Como bem resume a ativista de direitos humanos Juliana Gomes Antonangelo, seremos meros sobreviventes, resignados ao fluxo das crises, ou criadores de uma nova narrativa coletiva, capaz de reconciliar liberdade, justiça social e sustentabilidade planetária?

A tapeçaria do tempo está em constante tecelagem. Que fios você escolherá para essa próxima década?

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